Por João Paulo Vieira
Há muita vida no caos. Muito mais do
que parece, talvez muito mais do que deveria haver. O inóspito em nós mesmos,
esse imenso luto sem explicação, esse despedaçamento interno do que nos há de
mais íntimo, que talvez ainda não conhecêssemos e que só o penar da perda é capaz de demonstrar. O
caos é aquela sensação de perda do tempo e do espaço, quando você percebe que a
dor tem muito pra te dizer, mas não consegue entender uma palavra.
Mas há vida no caos. E por isso é
preciso vivê-lo, intensamente. Porque o período de reconstrução, não é nada
além de uma oportunidade de renovação. É
a chance de repelir tudo aquilo que está morto em nós, tudo aquilo que já não
faz mais sentido, mas que a comodidade de deixar como está impede de fazer algo
a respeito. O caos é justamente sobre encarar a estranheza de nós mesmos, e nos
leva a um estado de suspensão. Porque às
vezes pensamos demais, sentimos demais, e esse transbordamento de emoções leva
a uma anestesia. É que sentir em demasia é não sentir. E o total desprendimento do plausível, do
provável, e do que é lógico se faz necessário. O caos precisa ser combatido com
o caos. Entregar-se à essa estranha corrente que nos absorve, e esperar que
dela venha o novo, o desconhecido. O caos é a última instância do estar, e a
primeira do ser.
É preciso viver sem tempos mortos. É
preciso entender, de uma vez por todas, que a vida não vai bem apenas porque
não vai mal. Faz mal viver tão perto da morte, tão perto do cheiro forte que
deixa a decepção. Viver sem tempos mortos. E começar a encarar o sofrimento nos
olhos, com aquela garra que sempre se manifesta diante do medo do totalmente
desconhecido. Fazer da vida uma necessidade de transformação, de superação.
Porque nossa vida cabe a nós. Somos os únicos responsáveis por nossa história,
condenados a uma tão nossa liberdade. É preciso viver sem tempos mortos. E não
se engane, o caos é só um reflexo do que tem por dentro. É vontade de viver.
Do caos renovamos, saímos dele com machucados mas vivos. Podemos perder, mas mostramos nossas feridas de guerra com orgulho e dizemos com toda vontade: Sobrevivi àquele caos!
ResponderExcluirBom texto.