sábado, 16 de junho de 2012

Viver sem tempos mortos

Por João Paulo Vieira


Há muita vida no caos. Muito mais do que parece, talvez muito mais do que deveria haver. O inóspito em nós mesmos, esse imenso luto sem explicação, esse despedaçamento interno do que nos há de mais íntimo, que talvez ainda não conhecêssemos e que só  o penar da perda é capaz de demonstrar. O caos é aquela sensação de perda do tempo e do espaço, quando você percebe que a dor tem muito pra te dizer, mas não consegue entender uma palavra.
Mas há vida no caos. E por isso é preciso vivê-lo, intensamente. Porque o período de reconstrução, não é nada além de uma oportunidade de renovação.  É a chance de repelir tudo aquilo que está morto em nós, tudo aquilo que já não faz mais sentido, mas que a comodidade de deixar como está impede de fazer algo a respeito. O caos é justamente sobre encarar a estranheza de nós mesmos, e nos leva a um estado de suspensão.  Porque às vezes pensamos demais, sentimos demais, e esse transbordamento de emoções leva a uma anestesia. É que sentir em demasia é não sentir.  E o total desprendimento do plausível, do provável, e do que é lógico se faz necessário. O caos precisa ser combatido com o caos. Entregar-se à essa estranha corrente que nos absorve, e esperar que dela venha o novo, o desconhecido. O caos é a última instância do estar, e a primeira do ser.
É preciso viver sem tempos mortos. É preciso entender, de uma vez por todas, que a vida não vai bem apenas porque não vai mal. Faz mal viver tão perto da morte, tão perto do cheiro forte que deixa a decepção. Viver sem tempos mortos. E começar a encarar o sofrimento nos olhos, com aquela garra que sempre se manifesta diante do medo do totalmente desconhecido. Fazer da vida uma necessidade de transformação, de superação. Porque nossa vida cabe a nós. Somos os únicos responsáveis por nossa história, condenados a uma tão nossa liberdade. É preciso viver sem tempos mortos. E não se engane, o caos é só um reflexo do que tem por dentro. É vontade de viver.

Um comentário:

  1. Do caos renovamos, saímos dele com machucados mas vivos. Podemos perder, mas mostramos nossas feridas de guerra com orgulho e dizemos com toda vontade: Sobrevivi àquele caos!
    Bom texto.

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