Por João Paulo Vieira
Quando Deus teve a brilhante ideia de
tirar Eva da costela de Adão, e criar a partir disso toda a humanidade ele
provavelmente tinha algo em mente (afinal, ele é Deus), além do simples fato de
dar a Adão uma companhia. Pois bem.
Adão, ao olhar pra Eva pôde se deparar pela primeira vez com o
semelhante, mesmo que diferente. O outro. E Deus não fez isso por acaso, criar
Eva. Ele fez isso, porque no ser humano, no seu organismo, que ele mesmo havia
criado, há um fluido letal, que precisava ser descartado de tempos em tempos,
sob o risco de causar um colapso sem tamanho no sistema todo se não fosse
devidamente destinado: o amor.
Todo ser humano é capaz de amar.
Independentemente da maneira como se expressa. E isso só acontece porque o
corpo humano produz amor. E quanto mais amor ele fabrica, maior é a necessidade
de fabricá-lo. E esse amor precisa ser evacuado. Como os outros fluidos
corporais. Ele precisa ser prontamente entregue a um outro indivíduo, porque
grandes quantidades dele no sangue causam transtornos muito desagradáveis, que vão desde aquela profunda dor no peito
até à insônia, podendo levar à depressão.
E de Adão até hoje essa necessidade de amar só se tornou mais
urgente. E a nossa geração, regada à
histórias de paixões avassaladoras, canções de amor rasgado e um tal “direito
de ser feliz” no qual tanto se fala, colocou o amor num pedestal. E é preciso
amar. Não importa a quem, nem como. Mas importa quando. Agora.
O amor, em sua essência, não depende
da figura do amado. Porque para o amante, o amado é incomparável, é imaculado,
e é talvez o que mais se aproxima da ideia de perfeição. E essa necessidade de
fazer-se existir nos pensamentos do outro, perder-se na confusão alheia, esse
divino mistério de tentar entender, nem que seja por um segundo, o que se passa
na mente e no coração do outro, estimula a produção do amor, fazendo-o circular
a todo vapor na corrente sanguínea. E a figura do outro, que pra Sartre é uma
definição de inferno, aqui aparece justamente como a figura da salvação. O
outro, além de destino final do amor, é quem nos salva de nós mesmos. Não há
tempo a perder. Declare seu amor.
Pobre de quem não encontra pra quem
destinar seu amor. Porque o amor é como o sangue, ele precisa ser
compatível. Às vezes, por mais que se
tente, se teime, não dá. E o amor fica
vazando no peito, doendo que só. Paciência. Mas acredito eu, que Deus ao criar
Eva pra Adão, tenha pensando seriamente nas Evas e nos Adões que por aí viriam.
O negócio é procurar. Porque deve haver
um amor compatível ao seu. Se bobear, talvez haja até mais de um. Mas tem que
procurar. É importante ressaltar que o amor está no corpo, mas a
compatibilidade está na alma. E nem sempre duas almas compatíveis estão
suficientemente preparadas para se encontrar, num dado momento. Porém já cantou
sabiamente Chico Buarque: “Não se afobe não, que nada é pra já. Amores serão
sempre amáveis.” Confia no Chico.
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