terça-feira, 12 de junho de 2012

Amor, um fluido corporal


Por João Paulo Vieira

Quando Deus teve a brilhante ideia de tirar Eva da costela de Adão, e criar a partir disso toda a humanidade ele provavelmente tinha algo em mente (afinal, ele é Deus), além do simples fato de dar a Adão uma companhia. Pois bem.  Adão, ao olhar pra Eva pôde se deparar pela primeira vez com o semelhante, mesmo que diferente. O outro. E Deus não fez isso por acaso, criar Eva. Ele fez isso, porque no ser humano, no seu organismo, que ele mesmo havia criado, há um fluido letal, que precisava ser descartado de tempos em tempos, sob o risco de causar um colapso sem tamanho no sistema todo se não fosse devidamente destinado: o amor.
Todo ser humano é capaz de amar. Independentemente da maneira como se expressa. E isso só acontece porque o corpo humano produz amor. E quanto mais amor ele fabrica, maior é a necessidade de fabricá-lo. E esse amor precisa ser evacuado. Como os outros fluidos corporais. Ele precisa ser prontamente entregue a um outro indivíduo, porque grandes quantidades dele no sangue causam transtornos muito desagradáveis,  que vão desde aquela profunda dor no peito até à insônia, podendo levar à depressão.
E de Adão até hoje essa necessidade de amar só se tornou mais urgente.  E a nossa geração, regada à histórias de paixões avassaladoras, canções de amor rasgado e um tal “direito de ser feliz” no qual tanto se fala, colocou o amor num pedestal. E é preciso amar. Não importa a quem, nem como. Mas importa quando. Agora.
O amor, em sua essência, não depende da figura do amado. Porque para o amante, o amado é incomparável, é imaculado, e é talvez o que mais se aproxima da ideia de perfeição. E essa necessidade de fazer-se existir nos pensamentos do outro, perder-se na confusão alheia, esse divino mistério de tentar entender, nem que seja por um segundo, o que se passa na mente e no coração do outro, estimula a produção do amor, fazendo-o circular a todo vapor na corrente sanguínea. E a figura do outro, que pra Sartre é uma definição de inferno, aqui aparece justamente como a figura da salvação. O outro, além de destino final do amor, é quem nos salva de nós mesmos. Não há tempo a perder. Declare seu amor.
Pobre de quem não encontra pra quem destinar seu amor. Porque o amor é como o sangue, ele precisa ser compatível.  Às vezes, por mais que se tente, se teime, não dá.  E o amor fica vazando no peito, doendo que só. Paciência. Mas acredito eu, que Deus ao criar Eva pra Adão, tenha pensando seriamente nas Evas e nos Adões que por aí viriam. O negócio é procurar.  Porque deve haver um amor compatível ao seu. Se bobear, talvez haja até mais de um. Mas tem que procurar. É importante ressaltar que o amor está no corpo, mas a compatibilidade está na alma. E nem sempre duas almas compatíveis estão suficientemente preparadas para se encontrar, num dado momento. Porém já cantou sabiamente Chico Buarque: “Não se afobe não, que nada é pra já. Amores serão sempre amáveis.” Confia no Chico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário