terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Réquiem


Por João Paulo Vieira
Estamos a dez dias do fim do mundo. Talvez sejam meteoros chocando-se desesperadamente ao som do caos e uma chuva de pirotecnia caindo do céu. Não importa. Certamente serão corpos se chocando contra sua própria história e caindo pelo chão sem vida, agarrados ao resto de humanidade que lhes (nos) resta. Estamos a dez dias de presenciar o absurdo do fim. Mas de uma vez por todas. 
Profecias de fim do mundo não são nada mais que a ânsia de prever pra onde vai parar tudo isso que nos cerca. Experimentar, sem nenhum livre-arbítrio a imposição de uma realidade morta, onde nossas escolhas não passam de reféns do destino que se aproxima. E se fosse o fim? São dez dias pra caminhar sobre a terra reclamando do calor ou do trabalho pesado. Varrendo o álcool que é sustento de uns e alegria de outros. Cometendo os mesmos erros que fazem de nós o que somos: pobres, humanos e mortais. Mortais. E só o somos porque estamos na sala de espera da morte.
Há muita felicidade no fim do mundo. Porque lá, estaremos juntos diante de algo tão maior que nos consumirá. Sim, seremos iguais. Seremos nada e nada é igualmente nada pra quem quer que seja. Seremos uma massa se movendo desesperada enquanto poderia esperar paralisada a beleza do seu fim. Fim. Não sei se a morte coletiva é mesmo morte, já que não haverá luto, não haverá por quem chorar ausência. É preciso preparar-se para o silêncio da Terra depois de tamanho vulto e pro frio que trará a não-existência de tantos corpos que por aqui pulsaram.
Entre os preparativos pra essa festa haverá suicídios e declarações de amor. Haverá música e gente saboreando a piada que é o dia seguinte, se amanhecermos bem. Mas não seria uma boa ideia nos livrarmos disso tudo? Do que já foi construído, do que desmoronou, do que já não passa de peso morto, fazendo doer nos ombros um passado que só tem esse nome porque já não é mais? Pois então sirva-se da profecia. Deixar que o som do estrondo final arranque com toda a força o que só a falta do que fazer proporciona. Acompanhar atentamente o silêncio que virá no dia seguinte, pela ausência de passado ou de sombra que possa acompanhar o que não existe mais. Abrir os olhos e não se lembrar se o que dói é a perna esquerda ou o pulmão, não haverão lembranças. São dez dias pra colocar em ordem toda a miséria que não cabe no mundo ou na falta dele que virá depois. Desapegar-se da própria história e entender que não há nada mais urgente que a projeção do que vem pela frente, no futuro, onde somos o que pretendemos, antes mesmo que algo frustre um plano ou dois. Pois engana-se quem ousa julgar profetas ou subestimá-los. O fim é só mais uma oportunidade de se libertar. O fim não é ausência, mas o corpo tomando todo o espaço que lhe foi diminuído, e reencontrando a alma. Ainda que seja nada, o futuro é onde existe a possibilidade de ser o que se pretende. Já o passado? O passado é uma droga. Vai fazer bem deixar que o céu desabe.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Em preto e branco


Por João Paulo Vieira
Chora baixinho, menino
Ouve a música que vem do vizinho
Se molha na chuva que cai do teu rosto
Deixe estar
Que a tristeza não mata.
Ela passa.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Meio amargo


Por João Paulo Vieira
Ingrata mulata
Já semeou teu vento
Em meio as terras do bem
Já estufou o peito
A ti não falta ninguém!
Já tens tua redenção
Orgulha-te do mal que fez
Pinta de azul teu sono são
Ri em pensamento outra vez
Escarra na mão que te acolhe
Resguarda a tua função
Que a tempestade vem logo
Se afobe não

sábado, 1 de dezembro de 2012

As cartas perdidas

Por João Paulo Vieira

Caíram da gaveta na tarde silenciosa
E encheram de luz a sala
( luz artificial, iluminou a vida)
Perdi-me nas intermináveis linhas
Cheias de sorriso e afago
Suspiro
Mas era só mais um sonho, meu bem
Juntei-as num laço forte
E na penumbra que dissiparam
Deixei que se perdessem outra vez