quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Sorte

Não pense que não foi você quem escolheu onde e como viver desta vez. Escolheu o corpo, as dores, a hora e principalmente as companhias. Escolheu ter por perto almas que te ensinassem, te dessem amor, te fizessem chorar e rir, fossem o abrigo e a parte boa do caminho.
Quando eu escolhi pela primeira vez devia estar com sorte. Eu escolhi os melhores. Eu escolhi ser com eles, para eles, por eles. Nem sempre é fácil, mas certamente seria bem pior sozinha.
“Procure dividir-se em alguém”


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Palpite

O amor é isso que parece que foi embora, mas só tava perdido no meio da bagunça do quarto, da mente, da vida.
É aquilo que você não sabe se existe, mas quer muito, sempre quis.  Até que encontra, senti, pode, e é.
Um olho que brilha, uma paz que não deixa nunca mais. É a vontade de que todo mundo experimente um pouco disso, e veja essas cores...
O amor é o abraço mais cúmplice de todos, é o superpoder que permite a leitura de pensamentos.

O amor é a sanidade. 

domingo, 23 de junho de 2013

Domingo

Por João Paulo Vieira
Fundiram-se as ideias.
O pensamento e a bagunça já escancararam seu cheiro de pó.
Estamos a meio metro das palavras, perplexos,
Esperando que algo se explique ou que caia o céu.
Estamos sentados, de mãos dadas, e viemos assistir ao fim do mundo.
Estaremos felizes, talvez, quando aparecer no céu a lua que a partir de hoje quer ser grande.
Chorando, alguém soluça no canto que a solidão é a maior miséria. 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Cálculos


Antes de sair correndo pra longe de lugar nenhum, contei até dez, acabei ficando.  Contei carneirinhos à espera do sono, adormeci.
Nos dedos das mãos contei os melhores amigos, sobraram dedos (ainda bem).  
Me perdi contando as vezes que morri de saudade e chorei.
Faltou fôlego pra contar o quanto já ri dessa/nessa vida.
Contei minha história, mas ninguém entendeu. Não sou boa com contas. 

domingo, 19 de maio de 2013

José


Por: João Paulo Vieira
José sentou pra escrever
abriu a janela
pôs água no fogo
pôs açúcar no pão
respirou
já não dorme sem sono
tem sonhos em branco
cicatrizes na mão
mas José ainda marcha
entre os lençóis de ontem
entre poeira e espirro
se afagou nos livros
comprou dois cigarros
e prestou queixa
engoliu o suspiro
(José, para onde?)

sábado, 4 de maio de 2013

Segredo


Não conte a ninguém sobre o seu quase amor de sempre. Não tente parecer completamente feliz. Pegue sua roupa da moda, o seu cabelo da moda, seu celular inteligente que nunca toca, e que quando toca não faz você sentir nada de mais, é sempre só mais um entre tantos, entre todos. Nunca é o amor. O amor não liga pra você.
O amor não liga pra ninguém. Pobre daquele que passa a vida tentando atender, entender ...
O fato é que ele não está na moda, nem é tão smart, ele paira no ar. E não está em lugar nenhum. E talvez por isso esteja por toda parte.
Com um pouco de sorte e ventos favoráveis é possível senti-lo de leve uma vez na vida, quem sabe duas? Não mais que três.
É melhor que não conte a ninguém sobre isso também, pois isso é o tipo de coisa que todo mundo sabe, mas faz questão de fingir que não.

domingo, 28 de abril de 2013

Do amor


Por João Paulo Vieira
As pequenas coisas.
A lua de ontem.
O sono compartilhado.
Um afago.
O colo.
Mãos dadas, numa só.
A precisão do cheiro.
Uma tarde, qualquer.
E a ruga do sorriso.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A casa que eles são


Todos os dias alguém acorda cedo e prepara o café com o coração aberto, a alma leve. Esconde as próprias dores pra cuidar das suas, que talvez nem doam mais. O amor é quente e doce. O amor é cura.
Todas as noites alguém te deseja bons sonhos e que você durma com Deus porque pra ela não há melhor companhia para se deitar. O amor é divino.
Tantas coisas deixam o dia, a vida ruins, mas aí vem o amor com uma música nova pra te mostrar, um solo de guitarra, um violão. O amor é afinado.
O amor te ensina o que é uma meia lua de compasso. O amor é uma benção.
A vida é difícil de entender quase o tempo todo, mas o amor te traz outro amor e diz que te ama quando você menos espera. O amor é um bombonzão.
O amor é o que você tem quando não procura. Porque o amor que é verdadeiramente seu, está sempre por perto. Nas melhores coisas. Nas coisas simples que acontecem entre o “bom dia” e o “já pode acabar” que a gente sempre diz.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Pra não dizer que eu não falei de amor


Por Lílian Moura e João Paulo Vieira

Não há no mundo alguém capaz de saber o quão feliz ou triste outro alguém pode ser. O indivíduo é egoísta por natureza, e isso não é ruim nem bom é o que é. Um fato. Imutável. Por mais que se tente, uma hora ou outra o egoísmo nosso de cada dia ultrapassa as barreiras do politicamente correto e dá o ar da graça. Porque viver não nos permite ser sempre do mesmo jeito. As únicas coisas que se repetem são ao ais, os risos e o egoísmo.
Não é egoísmo querer que alguém seja seu?
Seu irmão, seu amigo, sua mãe, seu amor...
Ah, ser humano é ser egoísta, falho e um poço de amor infinito por si, pelos outros ou pelas coisas. É o amor que direciona o pensamento, os desejos e até os instintos.
E ninguém sabe amar, mas ama pra não adoecer, pra não morrer. E para passar a vida tentando (sem sucesso) saber das alegrias e dores que acontecem dentro do ser amado.
Ser amado. Como não querer? Como não ser?
Difícil saber até onde o egoísmo vai nos deixar chegar... Mas o melhor lugar está sempre perto e de perto ninguém é normal, esse é o ponto forte do amor. O amor quer pra si, mas é de cada um. Amar é o mais egoísta dos atos. Amar é particular. 
Amar é particular. Amo porque o tédio da tarde já não me suporta como já não o suporto eu. Amo porque a embriaguez já não me é saída e quando alucinado tenho vontade de amar. Amo porque a vida é breve e não posso deixar que o meu amado, nem por um instante, duvide que é nele que está depositado o meu amar. Amo porque quero, e me alimento, e meu ego me castiga se eu não amar. Amo porque sou egoísta e no meu sentimento não cabe a circunstância de não amar. Amar é um verbo ambíguo, tantas vezes hipócrita, sempre muito pessoal e infinitamente particular.
Esperam o egoísmo e o amor que a tristeza não se deixe ficar. Sabemos bem que não vai haver silêncio nem sossego. Sabemos que mesmo feitos um pro outro o amor e o egoísmo não irão se suportar. Mas já não nos cabe julgar. E é isso, engoli os julgamentos. Porque o amor é enfiar a mão por dentro. É esmiuçar e fazer gritar de dor só pra entender o intangível que está lá.
Sejamos francos e egoístas. Não vai o amor te acordar pela amanhã comunicando que agora é tarde pra chorar. Porque o amor corrói na mesma medida em que lhe reserva a noite pra sonhar. É egoísta o amor. Por si só. Por não te permitir que ame e deixe estar, que ame e deixe passar, que ame só por amar. Olhe nos olhos do amor, diga que hoje ele fica em casa e que você vai sair com os amigos pra comemorar. 
No meu sorriso de sábado à noite vai caber a desilusão inteira, vai caber os abraços e o egoísmo de quem quiser compartilhar. Sejamos humanos, amigo. E sobrevivamos juntos ao egoísmo do amor, que ás vezes de tão frágil, parece que não vai durar. Mas dura porque é só e para sempre seu.

quinta-feira, 21 de março de 2013

As Relações Perigosas


Por João Paulo Vieira
Gravado na parede
Sob o jugo pesado do fardo,
que agora é leve.
É leve?
Presente na memória da dor
Agora coroa-se a beleza
Efêmera
Mas que celebra a fúria dos amantes
Há marcas, não há rugas
E há um conforto descontente
Escondido
Sufocado
No tapete, atrás da porta
Em segredo e em silêncio
Entre aspas, outra vez.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Eurídice


Por João Paulo Vieira
“Qual mãe, qual pai, qual nada! A beleza da vida és tu, amada!” – Monólogo de Orfeu                                                                           

Porque em todos os caminhos, e na marcha através da morte, e no desprezo da canção e em cada nota que cai da minha harpa fizeste-me teu, Orfeu.
              As tardes sem Eurídice são como um passeio num bosque sem flores. Preciso andar, e acompanhar a brisa, e ouvir o som dos pássaros, mas não há vida nos canteiros. As flores, que outrora me contavam a história de nosso amor à medida que lhes tirava as pétalas, já  não estão lá. Caminho porque a tarde ainda é bela e caminhar é meu destino. Mas sob os meus pés e embaixo do meu travesseiro paira apenas uma nuvem gotejante que não chove porque não tem pressa de se desfazer, passa.
             As noites com Eurídice eram de uma maravilha indescritível. Infinitas como eram, me ocupavam tardes inteiras pensando em como impressioná-la de verdade, fosse com meu olhar desarmado, um beijo enamorado ou só mais um verso recitado em pensamento.  Era a paixão que me tomava e me tirava a lucidez, pairava eu silente, imóvel, insultado pela loucura de olhá-la e preferir a morte que a dissolução daquele laço que já havia se firmado em mim. Eurídice era em cores a imagem que havia em meu coração da felicidade, era a forma mais bela que um dia houve no mundo de um amor sem reservas, tapando-me os ouvidos e insultando-me a razão, fazendo de mim seu capricho, seu início e seu fim. Eurídice era uma dor inerte, que silenciosamente me rasgava o peito e se espalhava. Vê-la era como sentir-me pleno, enquanto sua presença me roubava todo o ar e a imensidão tomava conta e eu só queria olhar-lhe até que os dias se dissolvessem em pó, deixando intacta a imagem adormecida de minha amada.
           Ah, Eurídice. Infindas são as horas agora que passam sem que seu perfume as complemente. Estremeço, e conto os segundos, respiro fundo, vou com a mão ao peito, peço socorro. Tendo perdido o juízo já não preciso de eira ou beira, já não preciso de brilho ou de olhar, já não me incomoda o sono ou a falta de sobriedade. Sem ti, Eurídice, a vida é como o livro da saudade, e sigo colando minhas frustradas tentativas de sucesso em cima da tua imagem, sigo colhendo flores no quintal vizinho pra evitar que teu cheiro, quando vem á noite, me embriague, vivo sofrendo a triste injúria de sobreviver à dor de quem partiu. Depois de ti, amor, sou apenas destroço. Barulho e ingratidão.
           Mas já não há remédio. Mal visto fui na terra dos mortos, e já não há esforço que me recomponha da minha dor. Tua presença usurpou-me, roubou-me o viço. E agora tento recolher em cada canto a confiança que perdi nos teus olhares. Sou pedaço de mim e tenho pressa. Enquanto torturado pela mortalidade, pretendo desfrutar das doses de contentamento que há na vida, do esplendor que é a tua lembrança, da certeza de que era inevitável a mim encontrar-te. Suspiro. E me recordo que foram coloridos nossos caminhos, que ambicionamos ser maiores que o destino e que nossas lágrimas desenharam nossa eternidade.
Meu amor, queria que a tristeza desse asas à bondade, e que  por um dia ou pela eternidade, minha alma pudesse ver-se plena novamente, estonteada pela alegria de tua existência. Mas vai teu caminho. Vai tua vida que estarei contigo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Da lua, outra vez


Por João Paulo Vieira
Te peço emprestada a lua
Sei que é tua
E não quero lhe roubar
É que a luz agora corta a alma
E a noite anda enamorada
Carece a saudade matar?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Farsa

Por João Paulo Vieira

No sonho estava num elevador. Ele descia devagar e não parava. Não havia nada que sinalizasse em que andar estava e qual era meu destino. Com o tempo fui ficando incomodado. Não havia espelho, câmeras, nada. Procurei por botões, por uma trava de emergência e nada encontrei. Decidi esperar. A situação prosseguiu da mesma forma. Comecei a apalpar a superfície do elevador procurando algo, e acabei machucando um dos dedos, o sangue começou a cobrir o chão. A partir daí, uma angústia enorme tomou conta de mim. Fui repassando minhas memórias, me deixei levar pelo meu fluxo de pensamento, mas de maneira alguma conseguia pensar no que tinha me levado àquela caixa. Minha cabeça começou a doer muito, eu precisava muito sair, pensei até em gritar mas era evidente que ninguém iria me ouvir. Fechei os olhos pra esperar o que estivesse por vir. Segundos depois voltei a mim. Não havia mais paredes, não havia sangue e eu estava livre. Tudo não passava de uma farsa.
               Uma farsa. Como o riso forçado e a defesa do traidor. Como da vez que eu caí de bicicleta e não chorei pra que minha mãe não se zangasse tanto assim. Como no dia em que usei minhas frequentes dores de cabeça a meu favor, para burlar um compromisso chato. Como no dia em que fugi de casa. Me perturbou muito concluir que o medo em que eu estava envolto a tanto tempo era só farsa. Era sarcasmo contra  meu próprio riso, e era a dosagem certa de veneno. Havia me resignado a seguir em frente, sempre, obstinadamente, como um cego que segue seu caminho se apoiando enquanto houver paredes. Mas que diabos faço eu caminhando por um túnel onde não há a possibilidade de nem ao menos me deparar com um alguém mais infeliz que eu pra pedir alento ou um lugar pra repousar? Que faço eu, maltrapilho e miserável andando por essas terras onde a minha palavra não vale mais que a farsa do ator que usa o próprio corpo pra contar a história de um outro, de um terceiro, que tendo arrancado a venda agora amarga a dor de se arrastar com os próprios pés? Sou jovem. E os meus pulmões me imploram todos os dias que abandone o vício e me renda à minha força. Minhas pernas pedem que eu corra o mais longe possível da voz que insiste em me obrigar a remar. Meus olhos faíscam ao reprimir toda essa revolução contida por dentro. E sim, há uma revolução em mim, que luta até seus últimos recursos pra que haja ainda o direito de se jogar e se estrepar e ser um miserável feliz. Farsante, eis que sou. 
E tenho trocado meus instintos por um bocado de sono indulgente. E desconto todo o revés na própria carne, e gero um ciclo de destruição irresponsável enquanto meu organismo rejeita a duras penas o que escolhi chamar de vida. Na busca por culpados, é pra ela que volto toda a minha fúria. Vida. Me tornei rancoroso e já não posso perdoá-la por ser tão sofrível. Tão resignada e cheia de mal cheiro. Não a perdôo por me constranger com lembranças nem por fazer tanta melancolia nas noites quentes. Já não posso perdoar desde que percebi que a vida é toda fel e me tortura todo dia com suas entrelinhas de contentamento. Minhas entranhas doem, procuro me anestesiar de farsa.  Amanhã, ao acordar terei de fingir mais uma vez. Malditas sejam as próximas 24 horas e sua estúpida efemeridade. Maldita seja a eternidade dos instantes de dúvida e desespero. Maldita seja essa limitação que insiste. Já não a perdôo.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A flor de fevereiro



Era doce e acreditava na vida, nas pessoas, no amor que pode todas as coisas. Tentou me ensinar alguma coisa sobre ser de verdade, mesmo quando parecesse melhor não ser. Não da pra entender tudo, mas sem muito esforço dava pra ver que ela era demasiadamente boa, boa demais para esse mundo. Onde tem gente tem maldade e estupidez, mas ela estava sempre lá incansável na busca pelo melhor de cada um. –Todo mundo é bom. E todo mundo merece um voto de confiança. 
Creio que não aprendi essa parte, acho que nunca acreditei nisso. Ainda observo de longe. Ainda uso muitos filtros. O amor é traiçoeiro, é enganador é quase sempre a maior das ilusões. E as ilusões são perigosas como qualquer outra revolta da natureza.
Tomara que um dia eu possa te encontrar de novo. Pelo menos pra dizer do meu amor, todo dia maior. Tomara que eu possa te abraçar e ver seu sorriso, ouvir sua risada. Tomara que a gente tenha todo o tempo do mundo, mas qualquer segundo já servirá. Tomara mãe, que exista um lugar bem bonito e cheio de paz, só pra você. Eu te amo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

É carnaval, amor!


Por João Paulo Vieira

“Brasil, esquentai vossos pandeiros. Iluminai os terreiros. Que nós queremos sambar.”
Meu quarto tava uma bagunça e eu joguei tudo no chão de modo que as camisas não se misturassem com os livros. Dei dose dupla de ração pros cachorro e botei as plantinha no sol. Deixei as contas pra pagar na quarta porque hoje é sexta de carnaval e chegar atrasado no bloco não presta.
Ninguém precisa ficar na janela pra ver o bloco passar. Porque o carnaval não é sagrado e a alegria não é lei. Mas ai de quem se tranca e se recusa à festividade sem motivo que vem bem no meio do mês, ai de quem arrebita o nariz e diz que não é carnaval, que carnaval é falta de vergonha na cara, que a mulata nua é sem vergonha e que bagunça não é divertido não. Ai de quem não é carnaval, ai de quem não dança. Vem fazer moleza meu povo, que o carnaval não cansa.
Eu saio na rua com minha fantasia e o bloco a me acompanhar. Tô surpreendido pela alegria e parece que a música nunca mais irá parar. O pessoal tá feliz pra caramba, tem gente dançando muito, tem gente que não para de cantar. Parece uma piada, porque é sexta-feira mas cansaço não há. Parece uma mentira porque o Brasil matou o cansaço e até a quarta-feira trabalho duro não há. A gente parou e não há quem vá contestar. A gente decidiu não fazer nada que a gente não queira e não há quem nos impedirá.
E tudo isso é sobre celebrar qualquer coisa que renda uma risada boa, uma conversa à toa, uma história pra contar. É sobre o luxo de remar contra a corrente e todo mundo te ajudar. É conversa de bêbado, mas é quase canção de animar. É o elogio da loucura. O estandarte do sanatório geral vai passar.
Vou juntar minhas coisa num canto, bem quente de preferência, vou caçar um lugar pra festejar. E morrer de calor e de alegria porque já é sexta de carnaval, e eu saio na rua e rio na cara do povo e brinco de ser bobo, porque viver tem dia que é bobo e hoje é sexta de carnaval.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Ninguém escapa de sentir mais uma vez


A gente nunca esquece nada. Na verdade fica tudo escondido. Algumas coisas mais visíveis outras quase desaparecidas, mas ainda e sempre ali. Porque a gente sempre acha que vai precisar, ou pior, acha que vai esquecer. O que se viu, sentiu, provou, chorou, riu, lamentou, encontrou... Tudo ali. Tudo aqui. Pra sempre. Até que um acontecimento qualquer faça emergir um tanto empoeirado, ou ainda doloroso, ou colorido demais, cheio de uma vida que não é mais a sua...
Ninguém escapa de sentir mais uma vez. Mesmo que já não tenha o mesmo significado ou intensidade, essa tal memória, que serve muito mais como escudo, fatalmente nos atinge só pra mostrar que é forte e infinita.
Se com uma vela acesa muita coisa do lugar mais escuro da memória já aparece de novo, que nunca, em nenhum momento da vida, se acenda um holofote a menos que se pretenda enlouquecer.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Feliz Ano Velho


Por João Paulo Vieira
“Encarar a vida pela frente... Sempre... Encarar a vida pela frente, e vê-la como ela é... Por fim, entendê-la e amá-la pelo que ela é... E depois deixá-la seguir... Sempre os anos entre nós, sempre os anos... Sempre o amor... Sempre a razão... Sempre o tempo... Sempre... As horas.”
Virgínia Woolf
            
Parado estou enquanto as horas passam. Nos olhamos face a face, e tento traduzir em pensamento a crueldade com a qual me enfrenta a tarde inteira. Está quente e não posso me mover. Meus pensamentos gritam, minha cabeça dói. A medida que as ideias tomam corpo posso ver nitidamente que não há tempo. Vou lutar como um louco e no fim das contas não ter havido tempo, nunca. E as horas passam, velozes. Passam com autoridade, ironia. E eu morro um pouco a cada hora. E eu me recuso a morrer.
Só. E é estonteante ver como uma palavra tão curta, que desenha o mais vazio do ser pode dizer tanta coisa. Só, acompanhando a beleza da tarde se desfazer na feiúra do grito meu, do grito silencioso, do murmúrio daquele que assassinou a tarde. Não há banho de mar, não há fotografia, não. Há uma dor. Que persegue todo aquele que tenta por um instante desafiar o tempo ou o espaço. Não há fuga. E o que há? Há essa imensidão. Milhões de corpos flutuando sob cabeças falantes. Que esperneiam seu direito de viver. Que cospem conselhos fúteis, ideias pré-moldadas, felicitações por um mundo melhor. E há esse desejo em mim de fazer com que tudo seja diferente e pintar um quadro como aquele que vi há um tempo atrás, colocar a vida em exposição. Olho atento para todos os lados, analiso as variáveis. Bobagem. Não há mudança, nem novidade. Há esse ar parado que invade a sala sob a forma de raios de luz. Há essa luz, pálida que timidamente nos absorve. Há o sono que mais uma vez me impede que me mexa. Paz não há.
Mas há sempre aquela hora do dia quando os espíritos bons falam mais alto. E caminhos desenham-se à minha frente. São ideias simples, que pareciam idiotas outrora, mas que naquele momento tomam a forma brilhante que têm as vãs esperanças. Penso não estar mais só. E milhões de sorrisos invadem a sala, me fazem companhia. As pessoas conversam calmamente, nas situações de alegria e contentamento que eu crio nessas horas. E é inebriante a ausência do passado, que nessas horas se desfaz. Não há lembranças, nem rostos pra nos massacrar. E nessas horas somos felizes, no plural.
Pois eis que a noite vem. Cruel. Porque a noite meus caros, é a consciência do dia. Teu juízo final, é quando inevitavelmente ao colocar a cabeça no travesseiro a alma pesa. E não há quem durma em paz quando o coração aflige. Não há quem durma em paz quando nem o sono é fuga, quando nem em sonho se pode fantasiar o que há de bom. Inútil dormir, a dor não passa. Desafia a noite a enxugar teus olhos, enfrenta a noite. E sente o amargo da dor, assim como é. Porque é nessas horas, exatamente nessas horas que a miséria mostra como é terna sua companhia. Que ser infeliz não é mazela, mas sim a negação da solidão. Porque enquanto sozinhos, estamos sós. Mas quando infelizes, somos todos juntos. E a infelicidade não suporta a solidão.