terça-feira, 21 de agosto de 2012

Recado


Por João Paulo Vieira
Mas se fico aqui calado
Não se assuste não se apresse
Vou passando de mansinho
Reavendo o meu carinho
Só que se a saudade aperta
Então mando-te um recado
Bem discreto me responda
já que ausente está seu abraço
e nessa telepatia
vou poder com simpatia
Não fugir mais do seu laço.

Pra você, Lílian


Por João Paulo Vieira
Vou catando nessas linhas
Mais um pouco de poesia
Para essa formosa dama
Teu lamento é uma prece
Que aqui já não se esquece
Vou contigo à solidão.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Insônia


Por João Paulo Vieira
Esse sono reprimido
Desvairado
Descontente
A mim já não pertence
Só traz a ternura dos teus gestos
Imprime em mim teu sorriso
Dormir
Pra não contar estrelas
Dormir
Pra engolir o tempo.

Pintura íntima


Por João Paulo Vieira
- o que é eterno, Iaiá Lindinha?
- Ingrato! É o amor que te tenho.
Quase nada é por acaso.
Não me importa muito a razão pela qual as coisas acontecem. Nunca me importou. Mas é que a forma como tudo se passa me impressiona. A capacidade como os dias passam deixando a sensação de que certas coisas não são passageiras, e que alguma coisa de fato mudou. Mas o que acontece por dentro é de uma complexidade inexplicável. Essa pintura interna, íntima, que me reveste inteiro de traços inteligíveis e faz de mim um eterno perguntador. Estou em dúvida. Mas tenho certeza do que vou vivendo. Fui arrebatado subitamente por um sentimento hilariante de eternidade. No eterno, nada faz sentido. Porque as coisas não tem pressa. Quando se é eterno, não se pode ser por inteiro. Quando não há fim, a vida vai passando diante dos seus olhos e deixa na boca um gosto de frustração. No eterno não há paz, porque não vai haver fim. O fim, o ápice, o efêmero. É nisso que há beleza na vida. Não há como encontrar beleza na eternidade. A vida não é eterna por acaso. A vida é um trajeto finito e por isso feliz, é uma história que termina sem mais nem menos e sem explicação, apenas pra mostrar que as coisas só acabam quando terminam. Sigo enfeitiçado pelo que há por dentro, e olhando cada vez mais fundo me perco por completo. Não dá pra lidar com coisas eternas assim tão facilmente. E ando perdido, precisando que me desliguem que me tirem de mim. Que me proíbam de me importar tanto com o que não tem juízo, de me ferir com as armas que eu mesmo construo com a minha covardia. Só precisava que esse eterno que carrego comigo fosse menos destrutivo e exigente. E que nós pudéssemos conviver em paz, sem me exigir nada em troca. Que eu pudesse guardá-lo num canto até que a poeira me cobrisse os olhos. E que eu pudesse me esquecer de que é parte de mim, até que a vida se encarregue de usar das armas que só ela tem pra acabar com esse deboche com o qual a eternidade olha dentro dos meus olhos e me implora por só mais um pouco de coragem. Ando cansado de me pintar, e de fazer um novo rabisco em cada canto branco que encontro perdido ainda sobre a tela. Me cega olhar tanto pra tanta eternidade, me mata ficar parado diante desse quadro que não tem mais fim. Não preciso de muito. Só quero a paz da banalidade, pelo menos um pouco do conforto que a negligência traz. Ando cansado das coisas grandes. Das coisas belas, tão mal resolvidas. E dessa sensação de ingrata eternidade. Porque a vida é suja, maltrapilha e mesmo assim diária. E é preciso ainda um lugar pra descansar.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Conselho


Comece pelo começo.
Não parece óbvio? Nada é óbvio até que você decida que é. Então, só pra constar, eu queria mesmo era poder começar pelo fim. Não é no fim que as coisas se resolvem? Não é no fim que, como contam os contos de fadas, se é feliz para sempre? Há maior contradição? Ser feliz pra sempre, quando acaba a história. Então o fim é ser feliz, ou sendo ainda mais otimista, ser feliz é o fim. O fim de tudo e de todas as histórias. Essa tal felicidade.
Ninguém se preocupa em ensinar o quanto de dor existe entre as gotas de alegria que vez ou outra caem sobre as cabeças tão cheias e engajadas na busca incessante pela felicidade, e que às vezes nem aproveitam o “estar feliz” que, aliás, é muito mais comum que o “ser feliz”. Isso de doer se aprende sozinho chorando no escuro das madrugadas silenciosas e sempre cúmplices. E quantas dessas se enfrenta só para conquistar um pouco de felicidade? Porque diferente da dor a felicidade não deixa cicatriz e é, portanto, muito mais facilmente esquecida. O “estar feliz” de ontem já não serve mais, e a procura não acaba nunca.  Não raro, só pra mostrar que a vida não é como os contos de fadas, a história acaba sem final feliz. E de repente feliz mesmo tenha sido o início, mas quem percebeu?
 Comece sendo feliz, todo o resto é o fim. Me parece um conselho mais sensato.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A gosto


Por João Paulo Vieira

Que o tempo passe nos engolindo devagar. Que ele passe soprando por todos os cantos, nos tirando da monotonia, nos consumindo em cada momento de dúvida e de aflição. Que cale-se o barulho dos ponteiros pra que possamos ouvir com clareza as sinfonias que a vida nos tem pra contar. Que a gente tenha a coragem de correr atrás do tempo e de passar por cima dele. Que os instantes parem de se atropelar uns aos outros e que a gente respire um ar mais puro que o da indiferença. Que deixemos de frescura, pra correr atrás do que a cegueira nos impediu de enxergar. E que volte o gosto. A sentir o gosto. E a não deixa-lo mais passar. O gosto de voltar, o gosto de lutar, o gosto de sentir todo esse gosto. Agora temos todo o tempo do mundo. Porque o tempo não existe. O que existe é o gosto. É o gosto que passa, mas que não deveria passar. Agarre-se ao gosto, mesmo ao gosto amargo, mesmo ao estranho gosto que tem as decepções. Porque uma vida sem gosto está fadada ao vazio. Coragem, meu caro, coragem. E vá ser feliz. Vá ser feliz a seu gosto. Vá logo, porque já passa da hora. Porque nunca importaram os poréns e os porquês. Então vá. Munido de boa fé tudo se ajeita. Vá estampar um sorriso nessa sua cara. Mas faça com amor. Pra valer a pena. Despeje amor a gosto.