segunda-feira, 16 de março de 2015

Revira a volta

Por João Paulo Vieira

Quando criança, fui atacante.
Na chuva, na lama, no asfalto.
Era o primeiro a chegar e o último a sair
Chorava quando, às seis, gritava minha mãe:
- Menino, passa pra dentro!
Odeio jogar na defesa.
Penso que nossos inimigos fartam-se
em bandos e à nossa volta.
Penso na inimizade.
Que é um presente grego,
um exercício de sabedoria,
uma forma de redenção.
Penso que não se joga na defesa.

Para frente, e ao ataque!

sábado, 7 de março de 2015

Se você sabe o caminho de casa

Tirar o chinelo, sentar no chão, olhar um pouco pro céu, respirar fundo, fechar os olhos, aquietar os pensamentos e voltar pra casa.

Toda essa casca é nada. Não vão contar os títulos, as posições, o dinheiro gasto ou guardado, se o seu ego for maior que a sua casa e te fizer esquecer o caminho.
E uma hora todo mundo volta para a sua casa, que não é nada além da própria alma, a forma mais autêntica de ser quem se é.

 Às vezes venta forte e deixa tudo fora do lugar, mas a verdade é que é essencial tentar manter a ordem e, mais do que isso, não esquecer o caminho. Porque se você sabe o caminho de casa não há o que temer. 

domingo, 1 de março de 2015

Sextetos

Por João Paulo Vieira

Você cruza o mundo
Eu viro a noite a trabalhar
Te espero, não durmo!
Mas canso de procurar
Nas coisas de todo mundo
Você, agora a voltar.

Julieta comprou um doce,
um cachorro-quente,
um suco de uva
e castanha-do-pará.
Botou tudo na boca, deu 3 suspiros
Pôs-se a chorar.

Vai trabalhar, vagabundo!
Vai caminhar
Vai desenhar sua mão nesse mundo
Volta a sonhar!
Finge que a vida é mesmo isso tudo
A manhã florescerá

Astrid fez dois meses de yoga
e um de tai chi chuan.
Leu Foucault e Freud
mas fumou um baseado
e ficou tudo bem.

Dorme com o sono guardado no travesseiro.