Por João Paulo Vieira
Que o tempo
passe nos engolindo devagar. Que ele passe soprando por todos os cantos, nos
tirando da monotonia, nos consumindo em cada momento de dúvida e de aflição.
Que cale-se o barulho dos ponteiros pra que possamos ouvir com clareza as
sinfonias que a vida nos tem pra contar. Que a gente tenha a coragem de correr
atrás do tempo e de passar por cima dele. Que os instantes parem de se
atropelar uns aos outros e que a gente respire um ar mais puro que o da
indiferença. Que deixemos de frescura, pra correr atrás do que a cegueira nos
impediu de enxergar. E que volte o gosto. A sentir o gosto. E a não deixa-lo
mais passar. O gosto de voltar, o gosto de lutar, o gosto de sentir todo esse
gosto. Agora temos todo o tempo do mundo. Porque o tempo não existe. O que
existe é o gosto. É o gosto que passa, mas que não deveria passar. Agarre-se ao
gosto, mesmo ao gosto amargo, mesmo ao estranho gosto que tem as decepções.
Porque uma vida sem gosto está fadada ao vazio. Coragem, meu caro, coragem. E
vá ser feliz. Vá ser feliz a seu gosto. Vá logo, porque já passa da hora.
Porque nunca importaram os poréns e os porquês. Então vá. Munido de boa fé tudo
se ajeita. Vá estampar um sorriso nessa sua cara. Mas faça com amor. Pra valer
a pena. Despeje amor a gosto.
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