sábado, 12 de janeiro de 2013

Feliz Ano Velho


Por João Paulo Vieira
“Encarar a vida pela frente... Sempre... Encarar a vida pela frente, e vê-la como ela é... Por fim, entendê-la e amá-la pelo que ela é... E depois deixá-la seguir... Sempre os anos entre nós, sempre os anos... Sempre o amor... Sempre a razão... Sempre o tempo... Sempre... As horas.”
Virgínia Woolf
            
Parado estou enquanto as horas passam. Nos olhamos face a face, e tento traduzir em pensamento a crueldade com a qual me enfrenta a tarde inteira. Está quente e não posso me mover. Meus pensamentos gritam, minha cabeça dói. A medida que as ideias tomam corpo posso ver nitidamente que não há tempo. Vou lutar como um louco e no fim das contas não ter havido tempo, nunca. E as horas passam, velozes. Passam com autoridade, ironia. E eu morro um pouco a cada hora. E eu me recuso a morrer.
Só. E é estonteante ver como uma palavra tão curta, que desenha o mais vazio do ser pode dizer tanta coisa. Só, acompanhando a beleza da tarde se desfazer na feiúra do grito meu, do grito silencioso, do murmúrio daquele que assassinou a tarde. Não há banho de mar, não há fotografia, não. Há uma dor. Que persegue todo aquele que tenta por um instante desafiar o tempo ou o espaço. Não há fuga. E o que há? Há essa imensidão. Milhões de corpos flutuando sob cabeças falantes. Que esperneiam seu direito de viver. Que cospem conselhos fúteis, ideias pré-moldadas, felicitações por um mundo melhor. E há esse desejo em mim de fazer com que tudo seja diferente e pintar um quadro como aquele que vi há um tempo atrás, colocar a vida em exposição. Olho atento para todos os lados, analiso as variáveis. Bobagem. Não há mudança, nem novidade. Há esse ar parado que invade a sala sob a forma de raios de luz. Há essa luz, pálida que timidamente nos absorve. Há o sono que mais uma vez me impede que me mexa. Paz não há.
Mas há sempre aquela hora do dia quando os espíritos bons falam mais alto. E caminhos desenham-se à minha frente. São ideias simples, que pareciam idiotas outrora, mas que naquele momento tomam a forma brilhante que têm as vãs esperanças. Penso não estar mais só. E milhões de sorrisos invadem a sala, me fazem companhia. As pessoas conversam calmamente, nas situações de alegria e contentamento que eu crio nessas horas. E é inebriante a ausência do passado, que nessas horas se desfaz. Não há lembranças, nem rostos pra nos massacrar. E nessas horas somos felizes, no plural.
Pois eis que a noite vem. Cruel. Porque a noite meus caros, é a consciência do dia. Teu juízo final, é quando inevitavelmente ao colocar a cabeça no travesseiro a alma pesa. E não há quem durma em paz quando o coração aflige. Não há quem durma em paz quando nem o sono é fuga, quando nem em sonho se pode fantasiar o que há de bom. Inútil dormir, a dor não passa. Desafia a noite a enxugar teus olhos, enfrenta a noite. E sente o amargo da dor, assim como é. Porque é nessas horas, exatamente nessas horas que a miséria mostra como é terna sua companhia. Que ser infeliz não é mazela, mas sim a negação da solidão. Porque enquanto sozinhos, estamos sós. Mas quando infelizes, somos todos juntos. E a infelicidade não suporta a solidão.

Um comentário:

  1. Queria conseguir traduzir em palavras o que esse texto me fez sentir.
    Velho, ainda bem que você faz engenharia. Caso contrário, eu até desistiria do jornalismo por causa da concorrência hahah Tá lindo o texto, nego!

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