terça-feira, 5 de junho de 2012

O Super Poderoso Passado



Como é fantástica a habilidade do ser humano de transformar o passado em algo muito melhor do que de fato foi.
            O passado é aquele lugar magistral onde as cores são mais fortes, as imagens mais nítidas e blindadas contra o mal feito. Lá o tempo não existe, aliás, nada existe. Na verdade o passado é a imaginação brincando de perfeição e felicidade. Tudo é poético. A tristeza e a alegria dividem cenas e atenções sob o céu poucas vezes gris, quase sempre todo azul, azul como jamais esteve.
            O cérebro se diverte fazendo a edição dos “melhores” momentos e juntando-os num filme que vai do drama à comédia sem cerimônia, dependendo só das condições de temperatura, espaço, (de)pressão, dos dias do ano, de como o presente esteja se colocando. O presente. Este sim excruciantemente real, sem cortes, a vida desmascarada. Ela por si só.
            As ideias, os sentimentos, as conversas, estão todos lá (aqui). Representantes legítimos da existência. Os donos da verdade que tornam o agora um tanto menos bonito do que é.
            O Super Poderoso Passado. Seus super poderes? A criatividade, o esquecimento. No passado não é preciso lutar contra si, muito menos contra os outros, não há encontros nem desencontros, não é preciso aprender. Basta assistir ao mesmo filme. E pode-se parar na imagem que mais agrada, também é permitido voltar, até porque tudo por aquelas bandas é tão distante e tão perto que nem chega a ser, por lá se anda muito, mas não se vai a lugar nenhum.
            O passado é nada. É o que já não se tem. Volta-se para o que não é, não será, e talvez não tenha sido. E qual é a graça disso? Diferente do presente, o passado é poderoso, o passado pode ser observado de longe. Muito mais fácil. Muito mais humano.

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